Caros amigos, este texto também tem o intuito de trazer de volta um projeto iniciado há tempos por quatro amigos, três ex-alunos, que criaram este espaço para patrocinar uma discussão mais elevada a respeito dos negócios do futebol, depois de um ano outros quatro amigos, dentre eles eu, fomos incorporados ao time e passamos a produzir textos e fomentar discussões bastante interessantes.
Como o assunto é apaixonante demais tivemos de tudo por aqui, opiniões equilibradas, outras mais apaixonadas, algumas baixarias devidamente moderadas e algumas até publicadas para que passassemos a temperatura exata do problema. Foi divertido.
Infelizmente, a rotina de trabalho engoliu cada um de nós e o projeto foi perdendo prioridade, alguns de nós mudaram de emprego, de função ou as duas coisas mas, certamente, todos, sofreram um incremento na carga de trabalho advindo do crescimento profissional de cada um de nós.
Conversando com o amigo Marcos Silveira, a quem chamo de editor-chefe do blog sendo este um título que ele humildemente o recusa mas o ocupa quando é preciso tomar a frente, vi que era hora de arrumar um tempinho e voltar a escrever, o assunto deste texto será a Copa de 2014, ou de 2038 como propõe a revista Veja em sua edição desta semana.
Continuo sendo muito acessado pela imprensa para comentar os aspectos voltados ao negócio esporte no Brasil, veículos como Tv Record, Eldorado, O Globo (jornal), CBN e diversos outros veículos tem me dado oportunidade de servi-los como fonte para este tema que cada vez ganha mais importância, tanto no caderno de esportes como nos de economia e negócios, confesso que gosto deste movimento.
Desde 2007, no Dossiê Esporte como aqui no blog, quando em 2009 perguntei se ainda lembrávamos que em 2014 teríamos Copa no país, manifestamos nossas preocupação com a lentidão com que aqui no Brasil de tomam decisões, se fazem investimentos e da constante politização de tudo o que é feito. A única diferença é que agora estamos no meio de 2011, e que daqui a dois anos teremos já a Copa da Confederações.
Dói muito ler, e observar, que no ritmo que estão as coisas estaremos prontos para a Copa de 2038 apenas. Claro que se trata de uma extrapolação matemática onde a variável foi o ritmo de liberação de pagamentos por pedaço de obra executada, mas é um indicador, melhor que nada e muito melhor que as falas do Ministro dos Esportes dizendo que “tem certeza que tudo estará pronto…..que será a melhor Copa de todos os tempos” e por aí vai.
Não morro de amores pela Revista Veja, mas nesta reportagem creio que há o mérito de criar um indicador interessante e outro mérito de ter consolidado o andamento e orçamento das obras mais visíveis necessárias para a realização do evento.
A reportagem, a meu ver, começa a tirar a imprensa do imobilismo que me custa entender, ou as editorias de esporte não tem repertório suficiente para questionar o andamento dos preparativos, o que não creio, ou o assunto não interessa pois o leitor não entende ou há o risco desta mesma imprensa, da qual os governos tanto reclamam, estar amordaçada por alguma razão que desconheço. Espero estar enganado em todas as hipóteses anteriores, mas que há imobilismo, há.
Uma provocação inicial passa pela análise de um outro indicador, criado pelo próprio presidente da CBF, que disse que esta seria a Copa da iniciativa privada. O sucesso, disse a mesma autoridade, seria alcançado por quanto mais houvesse investimento privado e menos investimento público, inclusive em estádios. O que observamos é que aproximados 94% dos investimentos serão públicos. Não há o que discutir quanto a indicadores, com 6% de investimento privado, a Copa de 2014 já é um rotundo fracasso.
Alguém em perfeito juízo consegue imaginar por que uma empresa iria investir em um estádio com as pífias médias de público e tíquete médio encontrados no futebol brasileiro? Amir Somoggi, amigo e colunista deste blog, um dos engolidos pela rotina de trabalho e brilhante analista setorial do esporte, já calculou o retorno do investimento no Engenhão em 150 anos! Que dirá da arena de Manaus? Onde a média de público não chega a mil pagantes? Não há investidores e o Brasil cai na mesma armadilha montada por seus políticos e dirigentes esportivos, prometem iniciativa privada, se assume o compromisso com a comunidade internacional e na hora do “vamos ver” não há os tais investidores, sobra para o Estado e contribuinte….curioso é que os políticos até fingem uns dois segundos de surpresa, desculpe, mas para quem pensa um pouco tal conversa não convence mais.
Conhecemos nossos dirigentes esportivos e políticos, salvo pouquíssimas e honrosas exceções (assim ninguém me processa). Sabemos que sempre se deixa as coisas para a última hora para contratar obra de emergência sem licitação regida pela lei 8.666 e por aí vai. Mas para a Copa de 2014 até para isso está ficando tarde.
É tarde a ponto de apenas a arena de Fortaleza estar dentro do cronograma, e mesmo assim com tremenda boa vontade. Há informações que o projeto da arena de Brasília não previu gramado, traves, iluminação e cadeiras…o que tinha no projeto então? Um pasto cercado de um esqueleto de concreto?
O que vemos é um projeto sem liderança e sem coordenação alguma. Apenas assim podemos entender o que está acontecendo, é esta, a meu ver, a causa maior.
O político e dirigente esportivo tem por vício não querer, ou até conseguir por limitação intelectual, ver as coisas de forma sistêmica e/ou fora do círculo de seus interesses econômicos e políticos. O produto disso é uma soma de ações e discursos descoordenados cujo resultado é o que estamos vendo. Governo federal cobra os estados e municípios, estes dizem que não tem recursos, os tribunais de contas encontram inúmeras irregularidades, e sempre tem, e as obras não saem do papel.
Em São Paulo, a situação beira o ridículo. E é justamente no falar de São Paulo que surge a oportunidade para uma ressalva importante; este texto não tem nada de político/partidário; há em São Paulo sabores políticos para todos os gostos começando pela Cidade de São Paulo, Governo do Estado e Governo Federal, aqui tem do azul pro vermelho em um clique; e nenhum deles se entende ou faz a coisa direito, e o mundinho raso do futebol contribui em muito para a bagunça, o que me obriga a dizer que aqui não há favores clubísticos também.
Temos um estádio que existe e não serve e um estádio que serve mas não existe, isso na maior cidade do país. Todos são um pouco responsáveis, o São Paulo Futebol Clube apresentou projetos pífios de reforma do Morumbi, apostando que a FIFA ia flexibilizar suas demandas e/ou que jorraria dinheiro público para a reforma, nenhuma das duas coisas aconteceu pois a tal da CBF não gosta do clube nem de seus dirigentes e passou a usar o S.C.Corinthians Paulista como ariete para derrubar o “não-amiguinho”. Resultado, Morumbi não serve. Para resolver o problema bolaram um terreno em Pirituba, descobriram que este está em “quarentena” devido à contaminação por metais pesados quando lá havia uma fábrica.
Como desdobramento vem o S.C.Corinthians Paulista com um projeto a ser executado e custeado por uma construtora a pedido do presidente da república; ressalva : até havia um plano de negócio baseado em uma pesquisa bem feita com torcedores do Corinthians naquela região, mas que nada tinha a ver com a Copa. Agora é este o estádio da abertura, há quem duvide, sobretudo com custo de mais de 1 bilhão de reais.
Se falarmos de aeroportos seriam mais três páginas; falo do que eu conheço. O aeroporto de Cumbica tem as mesmas esteiras de bagagem de quando os terminais foram inaugurados, o aeroporto foi dimensionado quando havia, por exemplo, quatro vôos semanais para Nova York, hoje são três por dia, creio que já fui claro o suficiente. A Reuters repercutiu essa questão à exaustão, entrevistando, inclusive, profissionais capacitados do Infraero, que se recusam a assinar projetos com medo de verem suas carreiras interrompidas por eventuais denúncias de corrupção, mesmo sem tê-la praticado, pois eles são técnicos, e bons, diga-se de passagem.
Mesmo professor, com titulação em Administração e Planejamento, e com formação em gerência de projetos, confesso que não sei o que recomendar para sair dessa. Talvez encontrar uma lâmpada com um gênio dentro, mas mesmo assim seriam apenas três desejos.
Temos uma falta clara de lideranças, pessoas que possam gerar o movimento e que tenha conhecimento, poder de execução e moral para mexer as estruturas do país. O presidente da CBF não serve, há conflitos de interesse pois sua confederação disputará o torneio, em um país sério, isso já seria suficiente para torná-lo inelegível, mas o critério é outro. O ministro dos esportes é extremamente omisso e apenas aparece na mídia para jogar responsabilidades nas costas dos outros, sejam estados, municípios e clubes de futebol. Governadores e prefeitos embarcam na do ministro, rebatem as responsabilidades, alegam falta de recursos, cronograma apertado e todas as coisas que poderiam ser evitadas com planejamento sério que deveria ter começado em 2007, ou em 2009 quando se soube quais seriam as doze cidades sede. Estamos no meio de 2011.
Falta o Mandela que a África do Sul teve, falta o Beckenbauer que a Alemanha teve.
Aqui apenas temos velhas raposas que aceitam matar a vaca para que um pedaço maior do queijo lhes caiba, esquecendo-se de onde vem o leite.
A oportunidade de legitimar a visão de um país crescendo, destino de investimentos, com solidez institucional está a escapar de nossas mãos, o BRIC já se escreve por aí sem o B.
Isso é bem maior que o futebol, que a nossa ridícula classe política, que nossos incapazes dirigentes de futebol e que nossas burras elites que pensam que estação de metrô é “coisa de maconheiro”.
Vai mal a coisa.
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