Camarote F&N é o quadro que estreia hoje no Futebol & Negócio. O objetivo é trazer, a cada semana, um convidado para contribuir com o debate dos negócios do futebol.
E é com muita honra que abrimos o Camarote F&N para receber um grande jornalista e um dos melhores narradores esportivos do país.
No vácuo dos clubes
Por Milton Leite
Atacante do Palmeiras pode ser a "bola da vez" de Wagner Ribeiro
Daniel Santos Silva acaba de completar 20 anos. E no último domingo fez seu segundo jogo na equipe profissional do Palmeiras no jogo contra a Ponte Preta. Sua carreira é gerenciada pelo megaempresário Wagner Ribeiro – o mesmo que já administrou as carreiras de Kaká e Robinho, hoje é procurador de Neymar e Lulinha, duas jovens promessas de Santos e Corinthians, e simplesmente não sabe quantos jogadores têm sob contrato, tantos que são. Centenas, imagina.
Daniel Lovinho, como está sendo chamado, não é a mais nova aquisição de Ribeiro. Ao contrário, é cliente antigo. Desde que tinha 14 anos, ainda infantil.
Ribeiro e a agência de marketing esportivo Traffic agora têm uma parceria. Um braço da companhia, a Traffic Talentos, compra os direitos econômicos de jovens revelações (cada vez mais jovens) e Ribeiro imediatamente assume como procurador. Para os muitos novos e ainda desconhecidos, há o Desportivo Brasil (também da Traffic) para manter o jogador em atividade. Para os mais velhos e mais conhecidos, o caminho pode ser o Palmeiras ou qualquer outro clube que dê visibilidade. Cafu, lateral-direito do Rio Claro na Copa São Paulo, é um caso desses: deve aparecer em algum clube do Campeonato Brasileiro da Série A, mas com seu nome de batismo, Jonas.
Nenhuma ilegalidade em nenhuma das situações até aqui citadas. Mas você deve estar se perguntando: como é que Ribeiro (ou Traffic, ou Sonda, ou…) chega tão cedo aos garotos. Desde os 13 ou 14 anos, casos de Lovinho, Lulinha, Neymar? Por que não os clubes, para garantir um ganho maior quando eles estiverem maduros para brilhar aqui e lá fora?
Simples. Porque estes empresários e, agora, as empresas, ocupam um espaço que os clubes nunca preencheram. E nunca tiveram competência para tal. Porque as categorias de base carecem de profissionalismo. É sempre o ex-jogador que precisa de um emprego, o obscuro técnico amigo de um conselheiro, ninguém com formação para trabalhar com crianças, ninguém com competência para enxergar muito cedo uma jóia rara que pode no futuro garantir um craque no time e muitos milhões na conta bancária quando a venda for inevitável.
Mas a incompetência não para por aí. Os clubes são incapazes de, identificados os talentos, atuar para segurá-los com contratos e investimentos, normalmente feitos pelos empresários. É comum clubes perderem atletas promissores quando ainda estão longe dos holofotes. O Palmeiras não poderia gerenciar a carreira de Daniel Lovinho? O Corinthians não deveria decidir o futuro junto com Lulinha? O Santos com Neymar? Muita gente diz que os clubes teriam que gastar muito, afinal são 30, 40 jogadores em cada faixa das categorias de base. E como é que os empresários conseguem? Porque têm estruturas profissionais, rede de olheiros, profissionais bem remunerados… Tudo isso não garante só acertos, mas diminui muito a margem de erro.
E não adianta colocar a culpa na Lei Pelé. Ela tem um ou outro defeito, poderia remunerar melhor os clubes formadores (desde que eles realmente fossem formadores, não só do atleta, mas também do homem).
Mas nada do que você leu até aqui parece novidade, não é mesmo? Não parece um bicho de sete cabeças fazer frente à ação dos empresários.
O que realmente é inacreditável é não acontecer movimento nos clubes para modificar o quadro geral (exceções de praxe). Até parece que a maioria dos dirigentes gosta dessa situação para lucrar por outros meios. Mas, claro, não deve ser isso…
O jornalista Milton Leite começou a carreira em jornais e rádios de Jundiaí, trabalhou nas redações do Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo, Jovem Pan, Eldorado e ESPN Brasil. Está no Sportv desde 2005.
Entre 2006 e 2007 ele também teve um blog durante um tempo e a nossa torcida é para que ele volte à blogosfera o mais rapidamente possível.
Lá vai a batiiiiiiiiiida…. hauahaua
Não pude deixar passar essa…
——–
Nem sei por onde começar. Pela incompetência dos clubes ou pela tremenda vontade dos clubes que só querem revelar o atleta pra poder vendê-los e tentar – o que nem sempre ocorre – equilibrar suas contas? O velho círculo vicioso do futebol brasileiro. Deixando o time fraco tecnicamente até a próxima leva de revelações. Que gera o desinteresse dos torcedores e consequentemente a baixa frequência dos mesmos.
A incompetência impera em tudo isso que você citou. Falta uma estrutura solidificada. Do acolhimento desses atletas ao trabalho para torná-lo cidadão e, talvez, um grande jogador.
O ciclo vicioso nunca se transforma num virtuoso. Onde os dirigentes deveriam pensar que nem sempre suas pratas serão revelações bombásticas, o que hoje, já é pior devido à ação desses grandes empresários.
Quando deveriam corrigir essa incompetência, estruturar de modo profissional suas categorias de base, formar atletas, cidadãos, e por sorte estrelas para poderem se identificar com a torcida: tornarem-se ídolos. Podendo gerar receitas com a ajuda de um bom trabalho no marketing aliado a um gerenciamento da carreira desse ídolo e tantas outras revelações, mantendo o time forte e o interesse do torcedor. Para que depois, quando a situação se tornar irreversível, vendê-los. Dando um “plus” em seu balanço, e não como o salvador do mesmo.
Abraços
By: Ricardo Teixeira on 5/fevereiro/2009
at 2:27 am
É muito legal “blogar” com Milton Leite; sua visão crítica, equilibrada e profissional dão o tom. Obrigado por participar aqui conosco Milton.
Quanto à questão abordada pelo texto peço licença para um depoimento : estive em um cartório recentemente, enquanto a outra parte do negócio não chegava o escrevente chefe, ou seja que cargo for, me contava da enxurrada de garotos que assinavam, mesmo advertidos por ele, procurações de plenos poderes em nome de seus “empresários”.
Estamos falando de garotos de 13, 14 anos; amarrados por contratos leoninos e cegos pela promessa de uma vida melhor e com os pais, muitas vezes humildes e desinformados, iludidos mas de boa fé.
Pode ser que não seja ilegal, mas me causa preocupação e até alguma repulsa essa situação; a saída ? Vejo algum sinal em uma proposta da oposição no Corinthians, que é de profissionalizar apenas atletas que pertençam 100% ao clube, que gerenciará suas carreiras. Sim, o clube pode fazer isso, é só se planejar, estruturar e fazer aocntecer.
Abraços a todos e obrigado, de novo, ao Milton por participar conosco.
Robert
By: Robert Alvarez Fernández on 5/fevereiro/2009
at 10:06 am
Lá vai a batiiiiiiiiiida… Este cara é sensacional! Grande Sr. Milton Leite. Para mim o melhor narrador na atualidade. Não tem para ninguém. porque ele não pergunta algo para um comentarista e responde em seguida, como acontece com alguns outros narradores que querem ser narradores e comentaristas ao mesmo tempo.
Quanto ao post, é algo a ser muito bem estudado mesmo. Sei que em alguns países da euopa existem olheiros para buscar pérolas em diveros lugares e países para o clube. Na situação atual dos clubes, não acredito que façam algum investimento nesta área, pois acredito que seria um super investimento.
Na opinião de muitas pessoas, é isto que está estragando o futebol brasileiro. Pois o que esses empresários e empresas estão fazendo, é simplismente usar um clube de futebol como uma barriga de aluguel para vender os jogadores.
É triste vermos garotos de 13, 14 anos falarem ao serem entrevistados que seu sonho é jogar no Real Madrid, Barcelona, Manchester e etc. Hoje, esse pequenos não tem mais aquela paixão de antigamente que os garotos tinham pelos seus clubes que o formavam. Hoje, eles são “profissionais” muito precoce, e nem se emocionam como antes ao fazer seu primeiro gol como profissional, para eles isso é um pequeno passo para que ele se transfira para a europa.
Abraço à todos!
By: Diego Pereira on 5/fevereiro/2009
at 11:21 pm
Eu gostaria de fazer um breve cometario em cima do comentario do Robert.
A tal proposta da oposicao do Corinthians me parece boa, mas soh funcionaria se feita em conjunto com os outros grandes clubes do Brasil.
Se o Corinthians resolver tomar tal atitude sozinho vai simplestemente ficar sem jogador pois os empresarios levarao seus atletas aos clubes que se submetem as regras deles.
Os clubes so’ sabem reclamar da Lei Pele’ e de uma porcao de outras coisas, mas sao, na verdade, incompetentes para perceber que eles teriam o queijo e a faca na mao (se eles se unissem).
Ao meu ver, essa deveria ser a funcao de uma organizacao como o clube dos 13. Mas parece que eles so’ sentam pra discutir distribuicao das cotas de TV…
By: Joao Frigerio on 7/fevereiro/2009
at 8:56 am