Publicado por: Robert Alvarez Fernández | 26/fevereiro/2009

Futebol e Carnaval como Vetores de Transformação Social

Este post tem a finalidade de discutir, sob ótica social, os vínculos entre o futebol, objeto deste F&N, e o recém terminado Carnaval. Existe relação? A meu ver existe, mais até do que parece, ou deveria.

Não sou exatamente um apreciador do Carnaval, não tenho paciência de assistir ao desfile das escolas de samba, tanto do Rio de Janeiro como de São Paulo, mas reconheço a grandeza do espetáculo e assisto às apurações como quem assiste a um evento esportivo importante, uma grande final; pode parecer um contraponto, mas é assim que encaro o Carnaval das escolas de samba; ao final, fico feliz por quem ganhou e triste por quem perdeu, sem querer parecer político em campanha, torço para todas, já explico o porquê.

A semelhança maior que me vem à mente entre o Carnaval das escolas de samba e o Futebol vem de suas mais intrínsecas raízes; a organização de pessoas em torno de um ideal comum, de um objetivo muitas vezes esquecido: o de preencher a necessidade de pertencimento do ser humano; tanto as escolas de samba como um clube esportivo reunem suas comunidades próximas, as organizam, dividem tarefas, se custeiam e se preparam para a competição; são expressas ali as idéias, a visão de mundo e os valores dessas comunidades. Na escola de samba, por meio do enredo e da trajetória da própria; no clube de futebol, pelos símbolos, pela trajetória e, finalizando, pela própria identidade marcária do clube. Essa é a essência, por vezes esquecida e prostituída por tantos beijos em camisa de ídolos efêmeros e rainhas de bateria sem vínculo algum com a comunidade.

As pessoas que aderem a esses valores comemoram as vitórias, choram as derrotas; levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima, todos juntos. É aí que a mágica se dá. Ainda me lembro de um dia no Pacaembu em que, debaixo de chuva torrencial, um anônimo, pessoa simples que compartilhava da mesma paixão clubística que a minha, me ofereceu um cantinho de seu guarda-chuva. Não adiantou muito, mas a intenção valeu; outro exemplo menos pessoal é o apego dos torcedores do Barcelona pelo seu clube dado o que ele representa, a identidade de um povo. No samba, a comemoração de uma boa nota pela comunidade em sua quadra comove pelo congraçamento em torno de um ideal tanto quanto.

Tal análise pode remeter à questão dos males da mercantilização dessas manifestações populares, do empacotamento em produtos para consumo do grande público; sou administrador e nada tenho contra criar formas de acesso tanto ao futebol como ao samba por outros públicos; mas não há como abandonar e negligenciar o vínculo, a paixão gerada pelo pertencimento e pela mediação com as vitórias, com a beleza e com o ter sido parte de algo grandioso.

Cada vez mais, a diferenciação que se há de buscar se dá por meio da identificação com uma causa; duvido que haja vetor de geração de receitas mais poderoso que esse.

Tanto o futebol como o samba são poderosos instrumentos de inserção das pessoas, tanto os menos favorecidos, alvos freqüentes da demagogia social, quanto qualquer um de nós.

Os ideais expressos nos estandartes e bandeiras de nossos clubes e escolas de samba se traduzem em uma imensa possibilidade de inserir a comunidade em projetos realmente positivos de construção social e de uma vida melhor para cada um de nós; a organização urbana sempre privilegiou os interesses dos grandes grupos econômicos sobrando pouco espaço para as manifestações realmente populares, seja no campo cultural como na busca de uma vida melhor.

A construção desses ideais podem fortemente se opor à violência injustificada das torcidas organizadas. O uso político dessas facções e a benevolência injustificável de um poder público que condenou a educação pública à mediocridade não fazem mais sentido em um país que precisa ser competitivo no cenário global; valores mais altos precisam emergir e as associações, tanto esportivas como culturais, podem contribuir muito.

Os clubes e as escolas de samba são espaços democráticos, em sua concepção primaz, de convívio, de cooperativismo e da construção de valores mais elevados. A solidariedade e a tolerância vem daí; carente é quem olha pro lado e está sozinho, em uma associação como as citadas neste artigo isso não acontece, vide o meu depoimento do guarda-chuva.

Na prática, há espaço para ações educacionais, pra dizer o mínimo; pode-se por meio de voluntários e convênios com a iniciativa privada construir oficinas profissionalizantes, cursos de idiomas, palestras sobre profissões, de informática, preparatórios para vestibulares dentre outras milhares de oportunidades sem demagogia, sem personalismos, sem nada disso. Melhorar de vida todos queremos. Ajudar os outros a crescer é algo que melhora muito a nossa vida, eu acredito nisso. Algumas escolas, alguns clubes e várias empresas já fazem isso, vale a pena.

Talvez essas práticas e estratégias que tenham como pano de fundo o aspecto puro da identificação e do pertencimento sejam o pilar fundamental da construção de um futebol economicamente sustentável e socialmente responsável e grato de se acompanhar, de fazer parte. Pensemos a respeito.

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Respostas

  1. Oi Robert, penso como você, há muita semelhança entre o futebol e o carnaval, a paixão pelo clube e pela escola de samba. E ambos podem ser instrumentos de inserção social, sim. Mas um ponto que merece ser mais estudado é a questão da competição, da rivalidade com clubes rivais ou escolas rivais. Daí, talvez, saiam muitas brigas e mortes absolutamente estúpidas. E também há a questão do financiamento e de suspeita e acusações de lavagem de dinheiro tanto no esporte quanto em escolas de samba, muitas delas, pelo menos há algum tempo, nas mãos de bicheiros. Hoje em dia não sei como anda a situação das escolas, pois não tenho o samba no pé e não tem acompanhado muita coisa sobre o Carnaval. Apenas os nomes dos vencedores no Rio e em SP.
    Abraços, João Carlos

    João Carlos, obrigado pelo comentário. Você observa um ponto importante e que infelizmente faz parte desta realidade, sim. Esse problema existe, mas a administração profissional e moderna pode fazer com que, tanto no futebol como no samba, tais formas irregulares de financiamento dêem lugar à receitas legítimas, é só perdermos o vício de seguir pelo aparente caminho mais fácil.

    Acredito que estas fontes de financiamento já estejam perdendo um pouco de sua importância e poder, embora ainda e em alguns lugares, resista bravamente.

    Quanto à questão da rivalidade, ela sempre existirá e pode ser saudável; porém, é a soma dela com o baixo padrão de qualidade da educação, tanto formal quanto familiar, e a falta de projetos positivos de vida que libera a “toxina” da violência em nossa sociedade, é esse o jogo que temos que virar.

    Abraços,

    Robert

  2. BELISSIMA MATERIA…DE PARABENS MESMO….sempre q. me sinto familharizado com a materia em questão , post pra sim podemos acresentar ..trocar opiniões e sim transparecer a otica de cada um…,sim concordo plenamente q. clubes ..escolas de samba..e as torcidas organizadas(q. tbm faz parte de um comprometimento com a paixão e a massificação de um ideal )…devem por obrigação por sempre carregarem os nomes de “gremios recreativos, culturais, e todas akelas siglas q. a maiorias das pessoas nem sabem…mas se utilizam de izencões fiscais , e não repasam a legitividade do ideal da cultura , do esporte do engrandessimentos as pessoas…”o carnaval eh sim um pratimonio cultural mas sempre vinculado a bagunça bebedeira , e as outros costumes q. com ctz eh sempre para o divertimento, e não a aculturamento ow esclução social…e sim para a minoria da direção das escolas q. agregarem os recursos duvidosos para ludibrialem, uma massa focada a festa , do q. a real realidade social .
    tenho ctz q. se o idealismo das escolas com dos clubes fose mais incisivo a essa questão o voluntariado as empresas , iriam sim dar o respaldo nessesario a tal comprometimento visado a cultura, ao esporte,civilidade…q. faz mta falta na sociedade .

    quem não iria ajudar o seu clube ow sua escola de paixão…em trabalhos socias em campanhas ..ow qlqr outra forma ou postura de integração social…iria soh engrandecer a marcas das agremiações, a fidelização de pessoas q. nunca se viram gostando de futebol ow de samba..mas tem por intuito a solidadariedade..
    Para q. os gringos não viesem soh pra ver as mulatas tomar caipirinha, eo turismo sexual…mas ver um povo feliz . aculturado , com postura social , eo ensentivo a melhora de vida dos menos afortunado…para q, sim podemos sairmos para curtir o carnaval !

    abraço!!!!

    _x_spfc_x_

    Caro *br*, obrigado pelo comentário e pela participação. Concordo que se deva combater a exclusão social com iniciativas voltadas à educação e ao trabalho e combater, fortemente, o cenário do que você chamou de bagunça e exploração sexual; acredito que meus convites à reflexão propostos no texto acabam por diminuir o impacto destas ameaças….confesso que tive alguma dificuldade em entender sua mensagem, mas com boa vontade creio que consegui alcançá-la.

    Apenas discordaria da participação das torcidas organizadas nesta proposta, que em seu modelo atual, exploram a marca dos clubes sem remunerá-los e isso não é legal no aspecto lei nem no aspecto moral, sendo essa uma questão a ser resolvida seja por bem ou por mal, mas é um pensamento meu.

    Abraços,

    Robert


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