Como apresentei em meu último post (Modelo de negociação de direitos-I), na última década os valores negociados pelos direitos televisivos no futebol europeu cresceram muito. Alguns mercados mantiveram o modelo de negociação em bloco como Inglaterra, França e Alemanha e outros como Espanha e Itália criaram um modelo de negociação individual de direitos dos grandes clubes com grupos de comunicação.
Esse formato individual de comercialização foi muito benéfico para grandes clubes como Real Madrid, Barcelona, Milan, Juventus e Inter, mas criou um abismo entre os valores recebidos pelos grandes em relação aos pequenos clubes. A recente intervenção do governo italiano, para que a partir de 2010, o contrato de transmissão da Série A seja dividido por todos os clubes participantes, utilizando critérios de remuneração fixa e variável, visa uma alteração do atual cenário de direitos de TV no país. O objetivo dessa mudança é oferecer um melhor equilíbrio financeiro entre as equipes, possibilitando que haja uma valorização do produto futebol como um todo na Itália.
Premier League
O desejo da Lega Cálcio de voltar a ter o direito sobre o modelo de negociação das transmissões dos jogos, é um dos principais segredos do sucesso atual das receitas geradas com broadcasting pela Premier League (PL), benchmark entre as Ligas Domésticas da Europa.
A PL segundo a empresa Deloitte deve crescer na temporada 2006-07 cerca de 10% em relação ao ano anterior, quando a Liga gerou € 1,9 bilhão em receitas, graças principalmente as novas receitas de Manchester, Arsenal e Chelsea. Para a temporada 2007-08, com o novo contrato de direitos de transmissão até 2010 em vigor, a PL deve ter um incremento em seu faturamento de cerca de 19%.
Com esse resultado a 1ª divisão da Inglaterra deve se tornar a terceira Liga em faturamento do planeta, atrás apenas da NFL e MLB, e vale destacar, com apenas 20 clubes.
Na temporada 2006-07 a audiência global acumulada da competição foi de 2,9 bilhões de telespectadores, residentes em 611 milhões de casas, em mais de 200 países. Com esses números altamente positivos, não é toa que a Liga assinou um contrato de 2007-08 até 2009-10 no valor de de € 930 milhões ao ano e que beneficiará muitos clubes, não apenas os grandes. Além das receitas com TV a PL cede o nome do campeonato para o banco Barclays além dos direitos de telefonia para as empresas Three e Vodafone e outros acordos comerciais com a Lucozade Sports, Budwiser, Nike e Topps Merlin.
Na temporada 2006-07 do total arrecadado pela Premier League cerca de 85% foi destinado aos clubes, um montante de € 740 milhões.
Estrutura de divisão de receitas TV – Premier League – 2006-07
Fonte: Premier League- 2007
Os clubes participantes da última edição da PL receberam um valor fixo representado pelo Equal Share e pela negociação dos direitos internacionais, chamado de Overseas TV. O restante é uma remuneração variável e dividida, 50% para o desempenho das equipes na competição (Merit Payment) e 50% pelos jogos exibidos na TV ( Facility Fees).
Assim, o Manchester United, campeão da PL em 2006-07, recebeu £ 32 milhões, sendo £ 12,9 milhões em valores fixos, £ 9,7 milhões por seu desempenho esportivo e £ 9,4 milhões pelos jogos transmitidos, que não correspondem a uma remuneração por audiência e sim pelo total de jogos na TV.
O décimo colocado na última temporada da PL, Blackburn Rovers, teve direito a £ 22 milhões, sendo £12,9 milhões fixos, £ 5,3 milhões pela performance na competição e £ 3,7 milhões pelos jogos transmitidos. Já o último colocado Watford, ganhou £ 16,7 milhões e além dos valores fixos, recebeu £ 486 mil por seu desempenho e £3,3 milhões pelos jogos transmitidos. Há ainda a distribuição de £ 39 milhões para clubes rebaixados em outras temporadas.
Assim o modelo praticado pelos ingleses tem se mostrado o melhor caminho para a valorização dos direitos de transmissão no futebol. A força da Liga em conjunto é indispensável para a valorização de seu produto e ampliação de audiência global. A possibilidade de clubes menores gerarem mais recursos com remuneração fixa e até receber um adicional por desempenho me parece um formato muito equilibrado. Vale destacar que o clube da PL que menos recebeu por seus jogos transmitidos foi o Middlesbrough, com £ 3,1 milhões gerados.
Lembrando que em breve será anunciado o novo contrato televisivo do Clube dos 13, para você qual deveria ser o modelo ideal de negociação de direitos de transmissão no Brasil?
Amir, obrigado pelo texto e análises, sempre muito importantes.
Se aceita uma sugestão, seria legal mostrar como tal divisão se faz no Brasil e comparar com o modelo inglês tomando-o como paradigma dominante, ou benchmark na linguagem mais do dia-a-dia.
O modelo inglês da busca pelo mais próximo do equilíbrio mas não deixando de remunerar o desempenho bom é uma característica da cultura anglo-saxônica protestante; um exemplo emblemático disto é o modo de escolha de jogadores universitários nas ligas esportivas norte americanas, o DRAFT.
Com isso se busca o equilíbrio competitivo para garantir interesse pelo esporte, bastante sensato e não preciso dizer o quanto dá certo, né ?
Respondendo sua pergunta e me desculpe pelo simplismo, acredito que o modelo inglês seja bom, porém, implantá-lo no Brasil, reconheço, teria imensa resistência dos clubes maiores, penso eu pois a única visão de longo prazo da maioria dos clubes é quando precisam antecipar cotas de outros anos pra “fechar o caixa”. Muito ácido de minha parte ???
Olá Robert,
Creio que não seria nada fácil implementar um modelo focado em desempenho no Brasil, mas creio que seria uma boa saída para os clubes menores, que aí poderiam receber valores um pouco melhores.
O nosso problema é que os clubes grandes somente aceitam qualquer mudança que amplie os seus ganhos individuais e não a visão coletiva dos direitos. Mas o Santos saltou de grupo e depois de algum tempo ninguém mais reclamou.
Gosto sempre de apresentar o modelo criado pelos ingleses, que embora a PL negocie os direitos por exemplo de telefonia com a Vodafone, cada clube pode estruturar seu projeto individual. A Liga tem o direito sobre o site oficial da competição, mas os clubes fazem seus prórpios projetos, como apresentei no post Premissas Equivocadas-I, os casos de Liverpool e Juventus.
Um abraço.
Amir
By: Robert Alvarez Fernández on 4/março/2008
at 6:51 pm
Eu sempre tenho a impressão que aqui no Brasil, terminar nos primeiros quarto (ou cinco lugares) e classificar para o Libertadores é suficiente para a maioria dos clubes. Ganhar a liga parece não ter o mesmo status que tem no Reino Unido. Para alguns torcedores no Gran Bretanha, ser o vencedor da liga é o mesmo que ganhar a copas dos campeões. Não é uma questão financeira; é uma questão do orgulha e de ser campeio do próprio pais. Eu não sei se os clubes no Brasil recebem mais dinheiro quanto melhor a posição no Campeonato Brasileiro. Mas se oferecer um incentivo financeiro traz maior motivação para ser campeio, eu acho que seria positivo para o Campeonato Brasileiro.
Olá Jon,
Obrigado pela participação.Ninguém melhor que um Britânico para nos falar sobre a Premier League. Posso imaginar a alegria dos torcedores do Chelsea, por exemplo, com o primeiro título da PL na era Abramovich.
Aqui no Brasil os clubes recebem uma premiação por títulos na Série A e eventualmente em outras competições. São valores ainda pequenos e focados no título conquistado ou vice-campeonato. Ajuda, mas depende muito do clube atingir o topo da tabela e uma 5ª ou 10ª posição de nada valem.
Um abraço.
Amir
By: pitacodogringo on 4/março/2008
at 11:45 pm
O modelo da PL é excelente, e seria ótimo se fosse aplicado no Brasil. Mas como já foi dito, vai ser difícil os clubes que ganham mais largarem o osso.
Ainda em relação à PL, quando o americano comprou o Man Utd, se falou que ele poderia negociar os direitos de transmissão individualmente, coisa que Flamengo e Corinthians já pensam em fazer por aqui também.
O que me gerou uma dúvida: Se, por exemplo, o Figueirense vende seus direitos de transmissão para a Record, enquanto que a Globo fica com os direitos dos outros 19 clubes, que jogos a Record pode transmitir? Todos os do Figueirense? Somente os jogos realizados no Orlando Scarpelli? Ou nenhum?
Olá Ricardo,
Fiz essa mesma pergunta para um advogado que trabalha com clubes. Ele me falou que não seria tão simples transmitir os jogos de um clube que venda os direitos individualmente, já que há a utilzação da imagem dos outros clubes nas transmissões.
Veja o caso do Corinthians, a FBA tem a competição, mas pelo que foi noticiado não está negociando os jogos do Corinthians, que quer receber muitos milhões R$ por isso. Assim, para que o Timão esteja na telinha, terão que pagar em separado para o clube. Isso já ocorreu com o CAP no Paranaense e com o Sevilha na Liga Espanhola, que não aceitaram os valores negociados.
Um abraço.
Amir
By: Ricardo Antunes da Costa on 5/março/2008
at 1:30 pm
Eu fiquei com a mesma dúvida do Ricardo Antunes.
Nos casos em que um clube negocia os direitos de transmissão isoladamente, o clube adversário (que não tem esse contrato) também recebe algum valor? Deveria, afinal ele também faz parte do espetáculo… como isso funciona?
Um exemplo: o Real Madrid vendeu os direitos de transmissão pra Sky e vai jogar contra um time pequeno pela Copa do Rei (e o jogo será transmitido). O Real Madrid já recebeu uma bolada pelos x anos de contrato. Esse pobre time da terceira divisão da Espanha receberia alguma coisa?
Olá Filipe,
As transmissões dos jogos da Liga estão negociados individualmente pelo Real. Na Copa do Rey até onde sei é um outro contrato. Essas questões são realmente importantes e mostram como a negociação individual dos direitos é maléfica para a competição e para o mercado como um todo.
Na prática, se um clube não assinar o acordo para transmissão de seus jogos, nenhum jogo pode ser transmitido, mesmo o clube sendo visitante.
Um abraço.
Amir
By: Filipe Lopes on 5/março/2008
at 2:38 pm
Meu xará Ricardo Antunes levantou uma questão interessante, sobre a divisão de cotas de trasmissão há canais televisivos. Como é feito na PL? E aí Amir, esclaressa nossas dúvidas.
Abraços.
Ricardo,
Na PL o contrato é coletivo conforme apresentei no post. Se o Manchester não lutou para negociar individulmente é porque sabia que a regulamentação da PL jamais permitiria essa possibilidade.
Enquanto o Glazer sonhava em “peitar” a Liga, o Moores (antigo dono do Liverpool) construíu uma plataforma absolutamente eficiente na Internet. Coisa que o Manchester até hoje não tem.
Um abraço.
Amir
By: Ricardo on 5/março/2008
at 2:43 pm
Acredito que o modelo inglês é o mais justo . Infelizmente ,imaginar que o mesmo seja implantado no Brasil é como crer em Papai Noel . Especialmente considerando a mentalidade média do brasileiro que só pensa no seu lucro pessoal e nas suas vantagens e “o resto que se dane” . É curioso ver que , de um modo geral , o brasileiro (incluindo aí dirigentes de futebol) sonha em ser europeu liberal ,mas tem comportamento prático de feudo europeu medieval . De onde se tirou essa idéia de que uma determinada entidade (Clube dos Treze) pode se apossar dos direitos do futebol brasileiro e ,pior, determinar quem ganha mais e quem ganha menos a bel prazer? Esse Clube dos Treze está matando a nossa maior paixão aos poucos ,elitizando o futebol, afastando-o cada vez mais dos pequenos centros e tirando dos clubes menores a chance de crescer ou mesmo sobreviver .É o totalitarismo , o “Apartheid” no futebol, a Ditadura branca , que segue em frente com o apoio da “TV Que Manda Em Tudo ” aliada ao cinismo dos comandantes desse malfadado Clube dos Treze.
Tudo bem “cara de Brasil”
Prezado Vryzas,
O modelo praticado pelo C13 realmente é limitado, já que ficou restrito à negociação de contratos televisivos e eventualmente a comercialização de alguma cota de patrocínio.
O erro da entidade foi não ter criado em 1987 uma Liga Nacional nos moldes do que se praticou na Europa. Realmente na Inglaterra há um modelo mais justo de divisão das receitas que deveria ser aplicado em nosso mercado, que seguramente valorizaria o futebol como um todo.
O Brasil precisa de uma regulamentação de 1ª,2ª, 3ª e 4ª divisão a fim de que o futebol se profissionalize e o C13 deveria encabeçar essa mudança. Concordo que estamos distantes dessa realidade.Mas os clubes pequenos vivem implorando uma ajuda ao invés de instituir uma gestão profissional e lutar por seus direitos em grupo.
Mas o termo elitização é um pocuo compicado já que em qualquer país do mundo as divisões de acesso sempre gerarão valores muito inferiores à 1ª divisão, esse é um fato que temos que aceitar.
Um abraço.
Amir
By: Vryzas , o Anti-Matéria on 22/maio/2008
at 5:31 pm
oi gostaria de receber algum modelo de contrato de futebol; jogador x empresario x clube, coisas do tipo,gostaria de entender melhor o assunto.
obrigado
By: pstrick on 8/julho/2008
at 4:39 pm